Post fixo

Debate livre para cidadãos livres? Thomas Meyer

O vazio e a falta de sentido do monstruoso fim-em-si capitalista (D-M-D’) encontra expressão no vazio e na inconsistência das posições com carga identitária (‘caminho livre para cidadãos livres’ ou similares). Precisamente quando as identidades caem em crise porque os seus fundamentos sociais se rompem é que são defendidas de forma ainda mais feroz. A sua decadência ou obsolescência é atribuída a uma ‘ameaça externa’ (de esquerdistas, políticos, migrantes, feministas, ‘lobby gay’ etc.). A insistência na correcção formal de uma discussão ‘livre de dominação’ acaba por levar a que o que pode ser pronunciado ‘livre de dominação’ e ‘democrático’ – o que deve ser considerado ‘normal’ – seja deslocado mais para a direita. Isto não torna errada toda a crítica burguesa da cultura do cancelamento (como quaisquer purgas disparatadas de artefactos históricos ou preocupadas ‘tempestades de merda’ em vez de discussão), mas ela teria de crescer para além da sua tacanhez burguesa, se quisesse dar uma contribuição para a crítica da ideologia, contra a brutalização geral. No entanto, a crítica burguesa da cultura do cancelamento, com o seu liberalismo idealizado e a sua adesão à metafísica real capitalista (por vezes resumida como ‘senso comum’), torna-a mais compatível com posições de direita ou, como se diz no jargão popular, com elas conectável. Assim não é por acaso que alguns autores da Novo também escrevem para revistas como Achse des Guten ou Eigentümlich frei. De facto, o foco da crítica burguesa da cultura do cancelamento não é a crítica da cultura do cancelamento de direita: pense-se na “masculinidade política” (28), que se mobiliza agressivamente pelo patriarcado, e na agitação contra as Sextas-feiras pelo futuro. (29) A proibição dos estudos de género na Hungria ao que parece não contou como cultura do cancelamento para os críticos liberais/conservadores e de direita. (30) Pelo contrário, os estudos de género são considerados por muitos uma pseudociência que deveria ser abolida! Continuar lendo Debate livre para cidadãos livres? Thomas Meyer

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Após Postone – Roswitha Scholz

No texto são postas em destaque as diferenças entre Kurz e Postone do ponto de vista do “individualismo metodológico” (incriminado por Kurz). Expressas em termos esquemáticos, essas diferenças funcionam assim: enquanto Kurz insiste em ler “O Capital” como um todo e só depois observar a forma da mercadoria, situação em que o terceiro volume de “O Capital” assume importância, justamente para o processo das categorias reais de um colapso/decadência do capitalismo hoje observável também empiricamente, Postone agarra-se às primeiras 150 páginas de “O Capital” e desenvolve a partir daí o curso do capitalismo, sem consequências em termos de teoria da crise. Postone recorre basicamente à forma da mercadoria, Kurz à forma do capital. Ao mesmo tempo, Postone defende implicitamente um ponto de vista que tende a ser ideologicamente complacente com a classe média, não em último lugar porque coloca em primeiro plano sobretudo a ecologia, enquanto Kurz, bem consciente da questão ecológica, desmascara simultaneamente os interesses de classe média como ideologia; em Postone, no fundo, existe um “limite interno” apenas no plano da ecologia, mas não no da economia. Continuar lendo Após Postone – Roswitha Scholz

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O paradoxo da globalização II – André Márcio Neves Soares

Este artigo está centrado na contemporânea contradição entre um regime político em franco declínio – a democracia liberal que deveria ter sido vencedor após a queda do último grande bastião dos regimes totalitários da história (III),a URSS, e o avanço sistemático das forças de extrema direita nessas primeiras décadas do século XXI. Como efeito, o desmantelamento do bloco soviético, no final do século passado, deu a impressão de que finalmente a então guerra fria entre os países ocidentais comprometidos com o neoliberalismo haviam vencido o leste europeu e os países que seguiram a cartilha do Estado onipresente, no palco das ideias políticas. Hoje, em plena terceira década do século XXI, especialmente após a crise econômica/financeira dos “subprimes” americanos dos anos 2007/2008, a cantada vitória neoliberal parece ter sido precipitada. O que deu errado? Continuar lendo O paradoxo da globalização II – André Márcio Neves Soares

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A Escalada da Guerra de Ordenamento Mundial sobre a Ucrânia – Herbert Bottcher

Em 1989, o Ocidente capitalista considerou-se vencedor sobre o Oriente desmoronado. Não se reconheceu que não era um concorrente sistémico, mas o “irmão gémeo” do Ocidente capitalista que tinha atingido o seu fim: a variante estatista da produção de mercadorias, que já não era competitiva com o Ocidente nem era já capaz de lidar com a revolução microelectrónica. O que não foi percebido foi que este fracasso era o prenúncio da crise agravada do capitalismo, na qual o limite lógico interno da produção de mercadorias marcava os limites do desenvolvimento cada vez mais claramente também no Ocidente. O erro a que o Ocidente sucumbiu não foi – como se afirma repetidamente – a ilusão de uma paz perpétua, que subestimou o desejo imperial da Rússia, mas a ilusão de vitória sobre o suposto concorrente sistémico, que lhe permitiu fanfaronices sobre o “fim da história” (Francis Fukuyama) na sua conclusão em mercado e democracia, ignorando ao mesmo tempo os seus próprios processos de crise e desintegração. Continuar lendo A Escalada da Guerra de Ordenamento Mundial sobre a Ucrânia – Herbert Bottcher

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