Quando o Marx clássico examina a História como um todo, no sentido do conceito hegeliano virado materialista de desenvolvimento e de progresso, fá-lo com o conceito de “história das lutas de classes”, assim projectando, portanto, o processo de desenvolvimento e imposição do capitalismo para toda a história anterior. Só com o conceito de fetiche empregado pelo Marx esotérico se torna possível denominar, num nível teórico de abstração mais elevado, uma comunidade de todas as formas sociais até hoje, não simplesmente através de retroprojeções da era moderna: por mais diferentes que as suas relações possam ter sido, nunca houve sociedades autoconscientes ,que pudessem decidir livremente sobre a utilização das suas possibilidades, houve sempre apenas sociedades que foram dirigidas por meios fetichistas dos mais diferentes tipos (rituais, personificações, tradições determinadas pela religião, etc.). Ter-se-ia de falar aqui de uma “história de relações de fetiche”. O moderno sistema produtor de mercadorias, com a sua economia autonomizada irracionalmente, representa, portanto, apenas a última forma de fetichismo social, fustigada pela sua própria dinâmica cega.
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