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Elogio da Razão Sensível – Michel Mafesoli – o livro que estou lendo 

arlindenor pedro
Por arlindenor pedro 35 leitura mínima

Michel Maffesoli é um pensador que olha para o que está no mundo. Olha para os fenômenos contemporâneos. Preocupa-se em compreendê-los. E, seguindo o percurso de Weber, Simmel e Heidegger, nos convida a olhar fenomenologicamente para o viver social contemporâneo e a exercitar uma compreensão que seja capaz de retirar o julgamento moral de nossas análises sociológicas.

Sua vasta obra, que se iniciou em 1976 com A Lógica da dominação, seguida em 1979 por A violência totalitária, passando por A sombra de Dionísio (1985) e Tempo das tribos (1987) entre outros, oferece um material teórico-epistemológico diferenciado, no mínimo ousado, diante de sociologia produzida pelos pensadores da Modernidade. Não seria demais dizer que Michel Maffesoli inaugura uma sociologia  da sensibilidade. Uma sociologia que não despreza todos os sentidos e sentimentos que compõem o viver social. Uma sociologia que busca compreender as experiências coletivas e as relações intersubjetivas, considerando suas facetas lúdicas, rotineiras, ou ainda “perversas”. Uma sociologia que está preocupada não somente com a razão instrumental (conforme os frankfurtianos), mas também com a razão sensível.

Elogio da Razão Sensivel, um dos mais importantes livro escrito por este  sociólogo francês,  se propõe exercitar um método de compreensão do mundo fora dos padrões determinados pelo racionalismo moldado pelo Esclarecimento,  e por isto, dada ao seu peculiar método proposto,  resolvemos trazê-lo através do fichamento exposto no blogue Boteco universitário (compartilhamento de fichamentos,resenhas e resumos)  nesta nossa seção de resenhas : o livro que estou lendo.


Fichamento elogio da razão sensível-Michel Maffesoli

MAFFESOLI, M . Elogio da razão sensível. Petrópolis: Vozes, 1998.

No primeiro capítulo, o autor conceitua o itinerário a ser percorrido, ao falar de um saber sensível como método, ou seja, Maffesoli propõe o que denomina uma sociologia “da caricia” (1998, p.22) que substitui a representação racional das coisas por uma contemplação apaixonada do mundo. O sensível seria assim parte integrante do mundo, modo de compreender e principalmente vivenciar os fenômenos sociais. É possível aproximar-se de uma metáfora (que posteriormente será observada sob o foco maffesoliano) presente na musica de Vinicius de Moraes e toquinho ” a vida tem sempre razão”, ao dizerem “que nada adianta postar-se de fora”.

Assim como Maffesoli irá valorizar a forma e o pensar interno, coletivo, da experiência social, a experiência com o CPT deve ser verificada do lado de dentro, por seus participantes, através dos relatos presentes nas entrevistas realizadas.Somente assim, para o autor e para este estudo, é possível tangenciar a experiência sensível em sua totalidade e distintas nuances.

I- DEONTOLOGIA

• Sabedoria relativista: Quando já não se tem quaisquer garantias, ideológicas, religiosas, institucionais, políticas, talvez seja preciso saber apostar na sabedoria relativista. Esta “sabe”, por um saber incorporado, que nada é absoluto, que não há verdade geral, mas que todas as verdades parciais podem entrar em relação umas com as outras. P.11

• Sensibilidade generosa, que não se choque ou espante com nada, mas que seja capaz de compreender o crescimento específico e a vitalidade própria de cada coisa. P.12

• O saber ligado à “razão instrumental”: é um saber ligado ao poder. P14

• Apego ao ordinário: É estando desapegado em relação aos diversos ideais impositivos e universais, é estando enraizado no ordinário, que o conhecimento responde melhor à sua vocação: a libido sciendi. Por que não dizer: um saber erótico que ama o mundo que descreve. Assim, pela purgação do geral, da verdade, daquilo que é tido como correto, pode encarar-se o plausível e os possíveis das situações humanas. P.14

• Temática do sensível: bem poderia ser a marca da pós-modernidade. P.18

• Proposta metodológica: propus pôr em ação um pensamento de acompanhamento, uma “metanóia” (que pensa ao lado), por oposição à “paranoia” (que pensa de um modo impositivo) próprio da modernidade. Algo como uma sociologia da carícia, sem mais nada a ver com o arranhão conceptual. P.22

• Representação x apresentação: substituição da representação pela apresentação das coisas. p.23

• Apresentação das coisas: se contenta em deixar ser aquilo que é, e se empenha em fazer sobressair a riqueza, o dinamismo e a vitalidade deste “mundo-aí”. p.24

• Criação do mundo: interação entre a criação social e a de um autor. E aquele que estiver atento à beleza do mundo, às suas expressões específicas, participa do esforço criativo deste. p.24

• A elevação do sensível ao inteligível: Entendendo-se que tal “elevação” reconhece o sensível como parte integrante da natureza humana e, evidentemente, os efeitos sociais que isso pressupõe. p.27

• Maravilhar-se: É na dor e no sangue que se nasce para a existência. Mas é no maravilhar-se que é possível, bem ou mal, ir vivendo. É integrando tudo isso que se saberá ser o menos infiel possível à efervescência existencial característica da socialidade contemporânea. p.29

II. Razão abstrata

Ao tentar compreender a razão abstrata, o autor efetua uma cisão entre o pensamento moderno, focado na separação e o pensamento erótico, contemporâneo, que observa amorosamente “a vida em sua integralidade” (1998 p.60). Logo, entender que a observação do social não deve ser feita “do lado de fora”, mas por intelectuais orgânicos, como pensara anteriormente Gramsci, intrinsecamente imbricados com os fenômenos sociais. a razão não deve vir assim, a priori, mas será uma consequência posteriori da contemplação sensível do mundo, feita de empatia e sensibilidade com que se pode experimentar e observar o mundo.

O cotidiano contemporâneo estaria dessa forma formado de socialidade, a qual por um lado, está impregnada de comunicação verbal, a partir da qual é possível elaborar algumas leis gerais, mas, por outro lado, comporta também aquilo que chamamos de comunicação não verbal, coisa bem delicada de apreender com precisão. É o domínio do sensível (MAFFESOLI, 1998, p.60).

• Sobre o desenvolvimento cientifico: à barbárie artesanal dos séculos anteriores sucede a sofisticação dos meios propiciados pelo avanço tecnológico e pelo desenvolvimento científico. p.34

• Vida: vida é um movimento perpétuo onde se exprime a União dos contrários. p.37

• Crítica ao nacionalismo: o que está, essencialmente, em questão no nacionalismo é bem isto: um extraordinário fechamento sobre si mesmo, uma energia que é dispensada e empregada de maneira unicamente interna. p40

• O trabalho da razão é um perpétuo recomeço, que em nada se pode enclausurar a realidade, esta que sempre está em vantagem sobre o pensamento que dela se pode ter. p.47

Diálogo: Edgar Morin e o pensamento ecológico. p.4

• A sociedade contemporânea:

1. Pelo próprio fato de estar apegada ao cotidiano, à “proxemia”, não consegue mais acomodar-se a uma divisão estrita entre aquilo que seria da ordem da razão, e aquilo que pertenceria à da paixão. p.52
2. Identidades, classes, categorias socioprofissionais, filiações partidárias, ideológicas ou religiosas, tudo isso tende, progressivamente, a dar lugar a um vasto sincretismo de contornos pouco delimitados, onde cada qual é chamado a desempenhar papéis diversos, no jogo sem fim das aparências. p.52

• Sobre separação (pensamento moderno):

1. Freud: o poder separador que constitui a arma essencial do pesquisador, esse “cavaleiro do ódio”. p.53
2. De Adorno, passando por Durkheim, uma mesma sensibilidade se exprime: a da separação, a de uma razão abstrata que não consegue, não sabe, perceber as afinidades profundas, as sutis e complexas correspondências que constituem a existência natural e social. p.60

• Esquecimento progressivo do pensamento “erótico”: isto é, de um pensamento amoroso da vida em sua integralidade, tende a favorecer uma atitude normativa e justificativa. p.62
• Intelectuais orgânicos: cada  sociedade precisa de intelectuais orgânicos e não unicamente de intelectuais críticos, ou partidários do statu quo. É quando esse pólo orgânico vem a faltar que se entra num processo de decadência, isto é, de incapacidade, para um dado corpo, de ajustar sua maneira de ser e seu modo de pensar. p.63  (conexão com Gramsci)

• Razão e compreensão:

Mais do que uma razão a priori, convém pôr em ação uma compreensão a posteriori, que se apoie sobre uma descrição.• Rigorosa feita de conivência e de empatia (Einfühlung). Esta última, em particular, é de capital. p.66

.Vida: A vida não se deixa enclausurar. p.67

• Ciência: a ciência não é senão a cristalização de um “saber disperso na vida, através do mundo cotidiano”. p.67

Socialidade: Esta, por um lado, está impregnada de comunicação verbal, a partir da qual é possível elaborar algumas leis gerais, mas, por outro lado, comporta também aquilo que chamamos de comunicação não verbal, coisa bem delicada de apreender com precisão. É o domínio do sensível. p.69

III. A razão interna

Mas o que seria afinal a razão sensível, interna ao sujeito e que perpassa o corpo social, formando-o?

Para o autor a razão sensível seria da ordem do afeto, ou “alavanca metodológica que pode” servir à reflexão epistemológica, e são plenamente operatórias para explicar os múltiplos fenômenos sociais, que, sem isso, permaneceriam totalmente incompreensíveis.(MAFFESOLI,1998, p.72).

Este é o ponto e onde partir para compreender o fenômeno em sua essência,permitindo chegar até o que o autor denomina o “grund”, a razão interna,que expressa uma cultura ou um conjunto de fenômenos sociais historicamente localizado.Toda análise social deve fundamentar-se na busca do

“procurar o fundamento, e não a simples causa, de todo ato, de toda representação, de todo fenômeno, a fim de perceber-lhe a razão interna, ainda que esta deva contrapor-se à razão funcional ou instrumental à qual nos habituamos. “(MAFFESOLI,1998, p.86).

Dessa forma, as razoes de um fenômeno como o CPT por exemplo, consistem não somente na observação externa dos fenômenos, mas no mergulho nas experiências vivenciadas, na lógica interna dos fenômenos e dos sujeitos em interação e na matéria que forma a própria comunidade de aprendizagem. Sem tocar minimamente nesta essência, torna-se impossível descrever a contento o objeto escolhido.

• O afeto:

O afeto, o emocional, o afetual, coisas que são da ordem da paixão, não estão mais separados em um domínio à parte, bem confinados na esfera da vida privada, não são mais unicamente explicáveis a partir de categorias psicológicas, mas vão tornar-se alavancas metodológicas que podem servir à reflexão epistemológica, e são plenamente operatórias para explicar os múltiplos fenômenos sociais, que, sem isso, permaneceriam totalmente incompreensíveis. p.72

• “ideias força”: elas percebem o estado nascente dos fenômenos sociais em sua globalidade. p.80
• Razão interna:Pequena razão própria causa e efeito de um compartilhamento de valores entre alguns poucos. Nesse sentido, a razão interna é a expressão de uma cultura específica. p.81

• Razão e sentimento: o próprio das emoções, dos sentimentos, das culturas comuns, é que eles repousam numa vida compartilhada; todo o trabalho intelectual consistindo, portanto, em perceber a vida que os anima. Entendendo-se que essa vida tem suas razões que, com muita frequência, a razão desconhece, ou não deseja conhecer. p.82

• Análise social: procurar  o fundamento, e não a simples causa, de todo ato, de toda representação, de todo fenômeno, a fim de perceber-lhe a razão interna, ainda que esta deva contrapor-se à razão funcional ou instrumental à qual nos habituamos. p.86

Grund: fundamento, razão interna; p.88.

• Raciovitalismo:uma entidade, seja ela qual for, encontra sua razão de ser em si mesma, é causa e efeito de si mesma, é seu próprio fundamento (Grund). p.89

.Matéria e alma:“Pela matéria, em cada um de nós, é parcialmente a história inteira do Mundo que é repercutida. Por mais autônoma que seja a nossa alma, ela herda uma existência que foi prodigiosamente trabalhada, antes dela, pelo conjunto de todas as energias terrestres”. p.90

• Raízes de uma comunidade:As raízes de um ser, e as de uma comunidade, são uma mistura de passado, presente e futuro, mas não podem ser compreendidas de um modo externo; é preciso ir buscar sua lógica no próprio interior das mesmas, sob pena de obter uma visão abstrata desencarnada e, de cada vez, superficial. p.90 ( USAR NA COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM)

• Convergência: o mundo das formas, o mundo da forma, apanágio do poeta, não faz mais do que cristalizar o que se poderia chamar de desejo de unicidade que anima todas as coisas. Para além da fragmentação, inerente à vida mundana, há uma aspiração à convergência que a exigência poética personifica com perfeição. p.98

• Todo: o todo, por mais paradoxal que isso possa parecer, é bem anterior às partes que o compõem. E o que é mais importante: a compreensão das partes nos é, antes de mais nada, dada pelo todo”. p.104

.• O “raciovitalismo”: reconhece um ponto de vista epistemológico das correspondências existenciais que marcam a vida do dia-a-dia. p111

IV. Do Formismo

Como proposta de vislumbrar a face dos fatos sociais, Maffesoli propõe o conceito de forma como parte fundamental das sociedades, matriz que gera os fenômenos sociais na cultura pos-moderna. a forma, para o autor “é fazedora de sociedade” (MAFFESOLI,1998,p.122).

A forma é cheia de dúvidas,contenta-se em apresentar e não prima pela separação racionalista do objeto como meio de compreendê-lo. Em contrário:  parece-nos que na lógica da razão sensível, meramente se desenha a forma social, apresentando-lhe a essência,diante da qual o pesquisador deve se postar com o olhar sensível, deixando-se penetrar de suas nuances, para poder compreender mais intimamente o fenômeno pretendido.Para isto, o autor se aproxima do conceito yunguiano de arquétipo:

Eis o que a forma arquetípica pode nos ajudar a compreender: há resíduos arcaicos, imagens primordiais que fazem com que a vida seja o que é que a modelam enquanto tal e por aquilo que ela é. (MAFFESOLI,1998,p.149).

Neste conceito, há, em diálogo com o francês, um caminho a seguir, de modo a compreender a integração humana, a forma como os sujeitos se relacionam e a essência deste conjunto que se convencionou chamar humanidade, conjunto de sonhos coletivos, dos mitos e dos arquétipos que integra o sujeito “em um conjunto mais amplo do qual ele é parte integrante. (idem, ibidem, p.152).

• Sociedade e imagem: nossas sociedades são animadas, de modo orgânico, pelo jogo das imagens. p.115

• A forma:

1. é de fato a matriz que gera todos os fenômenos estéticos que delimitam a cultura pós-moderna. p.118

2. Forma: sem deixar de valorizar o corpo, as imagens, a aparência, ela é “formante”, isto é, ela forma o corpo social; em outras palavras, ela é fazedora de sociedade. p.122

3. A forma, ou a sua expressão filosófica – o formismo –contenta-se em levantar problemas, fornecendo “condições de possibilidade” para responder a eles caso a caso e não de maneira abstrata. É nesse sentido que a forma é cheia de dúvidas, e faz destas uma força inegável no processo de conhecimento. p.126

4. Essência na forma: sou a partir de uma essência – eu diria uma forma – que a vida pode existir, e que se pode pensá-la. p.128

5. A forma agrega, agrupa, modela uma unicidade, deixando a cada elemento sua própria autonomia, sem deixar de constituir uma inegável organicidade. p13

• Unicidade. Esta, por oposição à unidade que exclui, mantém, de maneira contraditória, a coesão de todos os elementos fragmentados do dado mundano. p.121
• Arquétipos: arquétipos:

1. importa agora apreciar-lhes as consequências sociais. P.148

2. Eis o que a forma arquetípica pode nos ajudar a compreender: há Resíduos arcaicos, imagens primordiais que fazem com que a vida seja o que é que a modelam enquanto tal e por aquilo que ela é. p.149

3. Através dos sonhos coletivos, dos mitos e dos arquétipos, é toda a pré-história da humanidade que continua a exprimir-se. Trata-se de algo de transpessoal, que ultrapassa cada indivíduo e que o integra em um conjunto mais amplo do qual ele é parte integrante. p.15

• A força da forma: impondo uma emoção coletiva ela orienta as vontades individuais e assim, “faz” sociedade. p.153
• Bildung: A Bildung designa igualmente a abertura à graça divina, isto é, uma iniciação que nos leva a participar da plenitude da perfeição. P.154

• Indivíduo x pessoa:Indivíduo, que possui uma identidade precisa, faz sua própria história e participa, pelo contato com outros indivíduos, da história geral, e pessoa, que tem identificações múltiplas no âmbito de uma teatralidade global. O indivíduo tem uma função racional, a pessoa desempenha papéis emocionais. P.160

V Fenomenologia

Detalhando seu processo metodológico, Maffesoli recorre à fenomenologia como outro modo de pensar o mundo, unindo a razão instrumental à razão sensível, que opõe o “porque” moderno ao “como” pós-moderno, que não fala pelo objeto, mas através dele, dialogando intelecto x alma. è preciso neste dialogar,dar a devida importância a intuição, como a percepção individual de um saber coletivo,cotidiano, que advém de uma interação entre os sujeitos no mundo, ou ” “saber incorporado” que, em cada grupo social e, portanto, em cada indivíduo, constitui-se. (MAFFESOLI,1998,p.194) como vinculo.

Esta ligação não será somente racional, mas também não lógica, daí a importância da intuição e da metáfora. Esta ultima é para o autor um instrumento privilegiado, pois, contentando-se com descrever aquilo que é, buscando a lógica interna que move as coisas e as pessoas, reconhecendo a parcela de imaginário que as impregna, ela leva em conta o “dado”, reconhece-o como tal e respeita suas Coibições”. (idem,ibidem, p.232)

São as imagens construídas de imaginário e experiências individuais que vão descrever os fenômenos sociais e permitir a compreensão de sua razão interna e de seu sentido.

Aqui cabe mais uma vez ilustrar o raciocínio com o exemplo do filme “o carteiro e o poeta”, na sequencia em que o personagem que representa o poeta Pablo Neruda ensina o carteiro sobre a importância da metáfora na observação do mundo.ante o olhar maravilhado do seu interlocutor enquanto os dois contemplam uma praia.

“Neruda ” define a metáfora como a substancia a partir da qual é possível escrever poesias.mais do que isso, compreender o mundo .parece-nos ser esta cena muito representativa do método maffesoliano: através da imagem percebida do cotidiano,do que se observa ao redor,é possível sensibilizar-se e iniciar um caminho me busca da percepção acerca de si e do mundo.são as imagens construídas não somente pela visão,mas pela sensibilidade constituída pelo sujeito e pelo imaginário coletivo que o percebem as componentes fundamentais segundo as quais é possível tanto escrever uma poesia quanto realizar uma pesquisa social,sendo ao mesmo tempo “transporte” do sentido” e mobilizadora da energia social.

• Feminização do mundo:o retorno de outro modo de referir-se ao mundo, de outra maneira de ver a criação. Algo que não tenha a brutalidade da razão instrumental,mas se contente com acompanhar aquilo que cresce lentamente em função de uma razão interna. P.171
• Modus operandi fenomenológico: O fenômeno faz sentido em si mesmo, não precisa ser relacionado a um além de si. Mesmo, qualquer que seja: profano, religioso ou político. p173

• Em vez do porque o como: “como”, o que quer dizer que este é vetor de conhecimento, conhecimento tanto mais primordial por apresentar coisas que são como elas são. p176

• Intelecto x alma: De preferência ao exercício de um intelecto que está sempre a se dizer não, é preciso saber pôr em jogo as molas de uma alma que esteja emcorrespondência com a alma do mundo. P.180

• Descrição do objeto social: Como observa Ernst Jünger,“não se fala do objeto, mas sim através dele”. P.187

• As ciências sociais: não fazem,propriamente falando, descobertas. A sociologia bem compreendida visa, em vez disso, aprofundar a compreensão de fenômenos que muitos já conhecem”. P.193

• Intuição:

1. É oriunda de um tipo de sedimentação da experiência ancestral, que ela exprime o que propus chamar de “saber incorporado” que, em cada grupo social e, portanto, em cada indivíduo, constitui-se sem que se dê-lhe muita atenção. P.194-195.

2. É isto que constitui o próprio da intuição ativa: perceber em toda a sua concretude os valores cotidianos que partilhamos, com outros, no âmbito de um ideal comunitário. p223
• Sentido: o sentido não é imposto do exterior, mas, isto sim,procede de uma verdadeira interação entre o quadro e o observador. p.230

• Vínculo social: O vínculo social não é mais unicamente contratual, racional,simplesmente utilitário ou funcional, mas que integra uma boa parte de não-racional, de não lógico, e exprime isso em efervescências de toda ordem quePodem ser ritualizadas (esporte, música, canto) ou, de modo mais geral são totalmente espontâneas. P.205

• Estética: Deve-se entender estética,aqui, em seu sentido mais simples: vibrar em comum, sentir em uníssono, experimentar coletivamente coisas que permitem a cada um, movido pelo ideal comunitário, sentir-se deste mundo e em casa neste.Mundo. P.207

• Razão:a razão, não importa o que pensem os defensores do nacionalismo é construída a partir de uma intuição inteligente.p212

• a metáfora:

1. é um instrumento privilegiado, pois, contentando-se com descrever aquilo que é, buscando a lógica interna que move as coisas e as pessoas, reconhecendo a parcela de imaginário que as impregna, ela leva em conta o “dado”, reconhece-o como tal e respeita suas Coibições.p.232 (no texto,fazer referencia ao filme carteiro e o poeta,quando Neruda ensina o carteiro o poder da metáfora)

2. pelas imagens, aquilo que descreve, o sociólogo vai, pela utilização das metáforas, fazer sobressair à vitalidade e a dinâmica do vivente.p238

3. Ao mesmo tempo em que o jogo das imagens transporta a emoção coletiva e o prazer dos sentidos, a metáfora, tomada em seu sentido etimológico, permitecompreender o “transporte” do sentido. Ela exerce, assim, o mesmo papel que o ritual nas sociedades primitivas: o de mobilizar a energia social.p240

VI. A experiência

• Senso comum:

1. algo que tem sua validade em si, como uma maneira de ser e de pensar que basta a si própria e que não carece, quanto a isso, de nenhum mundo preconcebido, fosse qual fosse, que lhe desse sentido e respeitabilidade.A intuição e o uso da metáfora são, justamente,expressões desse senso comum. Empenham-se em ultrapassar as mediações para alcançar, diretamente, o próprio coração das coisas.p.246.

2. O senso comum está fundado aí. Ele põe em jogo, de modo global, os cinco sentidos do humano, sem hierarquizá-los, e sem submetê-los à preeminência do espírito.p247

3. o senso comum é a expressão de um presenteísmo que serve de pivô entre passado e futuro. Dei a isso o nome de “enraizamento dinâmico.p251

4. senso comum, que é totalmente estranho à compartimentação ou, ainda, ao recorte da realidade em rodelas.p255

5. É esse inconsciente coletivo, cujo descrédito ainda é de bom tom proclamar, que constitui a ossatura do senso comum. Ele é como um tipo de substrato mítico que transpira, de diversas maneiras, por todos os poros do corpo social. Ele constitui a experiência do vivente que se enraíza longe na memória da humanidade.p.261

6. Tipo de “buraco negro” onde se concentra uma energia social que escapa às diversas imposições políticas, econômicas e morais que são o próprio do poder. É assim que o senso comum pode ser visto como uma forma de resistência que assegura o perdurar societal na longa duração.p264

• os pequenos rituais cotidianos: confortam o sentimento de pertença, a impressão de fazer parte de uma comunidade.p269.
• saber de “tipo Sul”:Um saber que não violenta, de modo prometéico, o mundo social e natural, que não conceituaria, sem precauções, aquilo que é observado, mas, ao contrário, que se contenta em levar em conta, de um modo acariciaste, o dado mundano enquanto tal.p.246.

• vida social: a vida social é fundamentalmente politeísta; quaisquer que sejam as diversas legitimações ou racionalizações de que se sirva, ou com as quais sejaguarnecida, sua prática é, antes de mais nada, plural.p257

• o pensamento orgânico:saber incorporado que, de geração em geração, vai constituir um substrato que assegura a perduração societal.p251-252

• sociologia: as grandes obras sociológicas ou antropológicas são, justamente,aquelas que atentam para o aspecto concreto e empírico da existência. É assim que podem ser compreendidas as diversas interações que constituem a trama da vida.p.254Obs:todo o saber é fundado no ser pensante.

• concreto e socialidade: o concreto constitui o terriço, o solo nutriente de toda socialidade.p.255

• a vivência :não é assunto individual.p.270

A vivência

É preciso voltar à face da ciência novamente ao senso comum, como expressão do presente,que “põe em jogo, de modo global, os cinco sentidos do humano, sem hierarquizá-los, e sem submetê-los à preeminência do espírito.” (MAFFESOLI, 1998, p.247),inconsciente coletivo que traz no plural da humanidade,repositório dos rituais cotidianos que constituem o ser em comum,cuja vida não é apenas individual,mas coletiva.ater-se a vivencia,ao cotidiano e ao senso comum é, para o autor: “É recusar a separação, o famoso “corte epistemológico” que supostamente marcava a qualidade científica de uma reflexão. É, por fim, reconhecer que, assim como a paixão está em ação na vida social, também tem seu lugar na análise que pretende compreender esta última.p272.

A observação sociológica deve fundamentalmente “referir-se à vivência daqueles que são seus protagonistas de base, do que às teorias codificadas que indicam, a priori, o que esse fenômeno é ou deve ser.p.283.baseada neste fato,foi feita a escolha por dar voz aos que experienciaram as oficinas do CPT como modo de dar vida ao fenômeno através dos que vivenciaram-no.Da mesma forma era impossível analisar o fenômeno sem extrair minha própria experiência com o lugar e com as pessoas envolvidas no projeto,como modo de colocar também na analise minhas próprias vivencias com o projeto,na observação mas também na fruição. segundo Maffesoli ”

Não é possível mover as coisas, a não ser estando-se, de modo orgânico, ligado à própria natureza das mesmas.p.301 .

• Ater-se a vivência:É recusar a separação, o famoso “corte epistemológico” que supostamente marcava a qualidade científica de uma reflexão. É, por fim, reconhecer que, assim como a paixão está em ação na vida social, também tem seu lugar na análise que pretende compreender esta última.p.272
• “sociosofia”, : uma disciplina que saiba integrar e compreender a “mística do estar-junto”.p272

• busca da vida: “procuremos a vida onde a vida está”, isto é, não nos códigos mortíferos das diversas instituições, mas na agregação comunitária que é sua causa e efeito.p.281

• método e justificativa: para perceber a especificidade e a novidade de um fenômeno social, convém mais referir-se à vivência daqueles que são seus protagonistas de base, do que às teorias codificadas que indicam, a priori, o que esse fenômeno é ou deve ser.p.283. (POR ISSO,ESCOLHI USAR OS RELATOS ATRAVÉS DOS FORMULARIOS E ENTREVISTAS)

• corpo social: o corpo social repousa, antes de mais nada, sobre a colocação dos corpos individuais em relação, e, igualmente, sobre o fato de que essa colocação dos corpos em relação secreta uma aura específica, um imaginário específico que é o cimento essencial de toda vida em sociedade.p.287

• vivência:Deixando fluir a metáfora, pode-se dizer que é a vivência que, em suas formas paroxísmicas, irradia as diversas manifestações da existência do dia-a-dia.p.290

VII iluminação pelos sentidos

• A verdadeira vida :não esta mais no saber e poder.p295(citação indireta)
• Experiência dos sentidos: existe uma dialética entre o conhecimento e a experiência dos sentidos. Mas, à diferença do “sensualismo” do século XIX, tal dialética não é apenas um processo individual, mas tem uma forte carga social.p.297

• a perda do senso estético : um erro epistemológico.p.298

• Saber “dionisíaco” :é aquele que reconhece essa ambiência emocional, descreve seus contornos, participando, assim, de uma hermenêutica social que desperta em cada um de nós o sentido que ficou sedimentado na memória coletiva.p299

• ensinar e fruir: Ensinar e fruir são os motores da compreensão e da ação. Não é possível mover as coisas, a não ser estando-se, de modo orgânico, ligado à própria natureza das mesmas.p.301

• a experiência sensível espontânea :é a marca da vida- cotidiana.p.304

Postado por Tatiane (tatunha@gmail.com) 

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Libertário - professor de história, filosofia e sociologia .
1 comentário
  • Segunda Carta de São João aos Coríntios.

    16 Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia.

    17 Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória;

    18 não atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, enquanto as que se não vêem são eternas.

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