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China: Múltiplas crises em vez de hegemonia- Tomasz Konicz

Até o final de 2021, segundo o Financial Times, a China investira o equivalente a US$ 838 bilhões nesse ambicioso programa de desenvolvimento que a tornou “o maior credor bilateral do mundo”. Essa posição de destaque aplica-se especialmente à periferia do sistema mundial, já que Pequim fez mais empréstimos aos 74 países qualificados pelo Banco Mundial como países de baixa renda do que todos os demais “credores bilaterais” juntos. A Iniciativa “Belt and Road”, como é conhecida em inglês a estratégia de investimento da “Nova Rota da Seda”, não é apenas o maior empreendimento de política externa da República Popular desde sua fundação em 1949, mas também o “maior programa de infraestrutura transnacional” já realizado por um único país. Mesmo o Plano Marshall, que hoje custaria cerca de 100 bilhões de dólares, desvanece considerando as dimensões da “Nova Rota da Seda”. Continuar lendo China: Múltiplas crises em vez de hegemonia- Tomasz Konicz

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Debate livre para cidadãos livres? Thomas Meyer

O vazio e a falta de sentido do monstruoso fim-em-si capitalista (D-M-D’) encontra expressão no vazio e na inconsistência das posições com carga identitária (‘caminho livre para cidadãos livres’ ou similares). Precisamente quando as identidades caem em crise porque os seus fundamentos sociais se rompem é que são defendidas de forma ainda mais feroz. A sua decadência ou obsolescência é atribuída a uma ‘ameaça externa’ (de esquerdistas, políticos, migrantes, feministas, ‘lobby gay’ etc.). A insistência na correcção formal de uma discussão ‘livre de dominação’ acaba por levar a que o que pode ser pronunciado ‘livre de dominação’ e ‘democrático’ – o que deve ser considerado ‘normal’ – seja deslocado mais para a direita. Isto não torna errada toda a crítica burguesa da cultura do cancelamento (como quaisquer purgas disparatadas de artefactos históricos ou preocupadas ‘tempestades de merda’ em vez de discussão), mas ela teria de crescer para além da sua tacanhez burguesa, se quisesse dar uma contribuição para a crítica da ideologia, contra a brutalização geral. No entanto, a crítica burguesa da cultura do cancelamento, com o seu liberalismo idealizado e a sua adesão à metafísica real capitalista (por vezes resumida como ‘senso comum’), torna-a mais compatível com posições de direita ou, como se diz no jargão popular, com elas conectável. Assim não é por acaso que alguns autores da Novo também escrevem para revistas como Achse des Guten ou Eigentümlich frei. De facto, o foco da crítica burguesa da cultura do cancelamento não é a crítica da cultura do cancelamento de direita: pense-se na “masculinidade política” (28), que se mobiliza agressivamente pelo patriarcado, e na agitação contra as Sextas-feiras pelo futuro. (29) A proibição dos estudos de género na Hungria ao que parece não contou como cultura do cancelamento para os críticos liberais/conservadores e de direita. (30) Pelo contrário, os estudos de género são considerados por muitos uma pseudociência que deveria ser abolida! Continuar lendo Debate livre para cidadãos livres? Thomas Meyer

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A atual angústia do capitalismo – André Márcio Neves Soares

Nesse ponto, a real angústia do capital está em que condições chegará ao final dessa mutação. Se conseguir manter um exército de alienados-zumbis suficiente para consumir os recursos terrestres – seja de maneira mais acelerada em momentos de guerra, seja de forma mais cadenciada em tempos de puro espetáculo – sem interromper as cadeias de transformação do ser humano no estágio mais próximo possível do “homo deus”, então o capitalismo terá realizado a profecia do homem-máquina lá atrás de Marx. Se não conseguir manter estruturada minimamente uma sociedade dividida (cada vez mais feroz) em classes bem antagônicas, quanto ao resultado final dessa expropriação e apropriação do capital, porém homogêneas na sua alienação do prazer instantâneo de produzir e consumir bens descartáveis, aí o sistema (re)produtor de mercadorias infinitas corre o risco de, por assim dizer, chegar a um vale-tudo, um salve-se-quem-puder, que poria em risco o projeto de vida intergaláctico daqueles que realmente importam para ele: os donos do poder.  Continuar lendo A atual angústia do capitalismo – André Márcio Neves Soares

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Robert Kurz e Roswitha Scholz: relendo Marx contra os marxistas – Christophe Gueugneau

Desde o final dos anos 1980, na Alemanha, uma corrente teórica voltou às fontes de O Capital de Marx para extrair dele um novo quadro para a leitura do capitalismo: a crítica da dissociação-valor. Desafiando o marxismo tradicional e o pós-modernismo. Continuar lendo Robert Kurz e Roswitha Scholz: relendo Marx contra os marxistas – Christophe Gueugneau

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Após Postone – Roswitha Scholz

No texto são postas em destaque as diferenças entre Kurz e Postone do ponto de vista do “individualismo metodológico” (incriminado por Kurz). Expressas em termos esquemáticos, essas diferenças funcionam assim: enquanto Kurz insiste em ler “O Capital” como um todo e só depois observar a forma da mercadoria, situação em que o terceiro volume de “O Capital” assume importância, justamente para o processo das categorias reais de um colapso/decadência do capitalismo hoje observável também empiricamente, Postone agarra-se às primeiras 150 páginas de “O Capital” e desenvolve a partir daí o curso do capitalismo, sem consequências em termos de teoria da crise. Postone recorre basicamente à forma da mercadoria, Kurz à forma do capital. Ao mesmo tempo, Postone defende implicitamente um ponto de vista que tende a ser ideologicamente complacente com a classe média, não em último lugar porque coloca em primeiro plano sobretudo a ecologia, enquanto Kurz, bem consciente da questão ecológica, desmascara simultaneamente os interesses de classe média como ideologia; em Postone, no fundo, existe um “limite interno” apenas no plano da ecologia, mas não no da economia. Continuar lendo Após Postone – Roswitha Scholz

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Fetichismo Sexual – Notas sobre a lógica de feminilidade e masculinidade- Robert Kurz

O sujeito moderno, como é sabido, está tão morto pelo menos como Deus, mas ainda parece viver uma existência zombie, tão irreal como triste e mecânica. Pois afinal também ele faz parte, naturalmente, da constituição vudu da sociedade fetichista ocidental e da sua razão iluminista. E em lado nenhum esse carácter patético do sujeito ilusório há muito falecido parece tornar-se mais evidente do que no debate de género. Esta problemática, talvez a que mais profundamente chegou ao fundo da sua própria constituição, ainda menos pode ser debatida até ao fim pelo pensamento cansado da razão morta-viva do que todas as outras questões da desintegração da modernidade. Os combatentes de ambos os lados de um sexo que se tornou irreal retiraram-se, ao que parece, para o terreno de uma normalidade burguesa que já não é vivida (se este particípio ainda é permitido) como susceptível de ser transcendida. Sobre este terreno infelizmente já bastante devastado e contaminado, estão agora a tentar colocar as suas reivindicações em jogo, continuando a raciocinar como habitualmente, mas com um grau de indiferença que deve aproximar-se da sua condição real. Continuar lendo Fetichismo Sexual – Notas sobre a lógica de feminilidade e masculinidade- Robert Kurz

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Da loucura do trabalho para Dejours: nota sobre a Psicopatologia do capitalismo – André Márcio Neves Soares

Por tudo isso, Dejours entende que a organização de trabalho “robotizado”, perigosa, fragmentada como tem sido a tônica desde o auge do capitalismo pode acarretar na perda de esperança e de sonhos por parte da classe trabalhadora. Assim, pode ocorrer o que ele chama de bloqueio na relação entre o homem e o trabalho. Esse bloqueio patogênico, para ele, está relacionado ao modo predatório que o trabalho atinge as necessidades da estrutura mental do trabalhador. Continuar lendo Da loucura do trabalho para Dejours: nota sobre a Psicopatologia do capitalismo – André Márcio Neves Soares

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Alternativas ao capitalismo – Em teste: Movimento pós-crescimento, commons e a questão da “síntese social” – Thomas Meyer

Quanto mais a crise avança, menos a esquerda parece ser capaz (devido a recalcamento, negação ou apego a identidades anacrónicas etc.) de se aperceber do limite interno do capital e do alcance da crise que se tem vindo a intensificar desde 2008. É grotesco que haja agora uma verdadeira enchente de livros sobre “interpretações da crise” burguesas, com as correspondentes “estratégias de lidar com a crise” desesperadas, sobre as quais a esquerda tem pouco a dizer e a que alguns esquerdistas provavelmente nada conseguiriam contrapor. Hoje é mais importante do que nunca formular e abordar a emancipação social contra as categorias reais do sistema capitalista. Os protestos sociais existentes têm de ser postos frente ao espelho para “cantar-lhes a sua própria melodia” (Marx 1958, 381). Para isso é preciso alargar os limites desses protestos na forma da mercadoria e na forma da dissociação, e demonstrar a necessidade de exigir a satisfação das necessidades sociais e materiais contra a sua “financiabilidade”.

No caso de protestos contra a “loucura das rendas” ou contra o “estado de necessidade dos cuidados”, é natural demonstrar solidariedade, embora isto não exclua penetrá-los em termos de crítica da ideologia e negar-lhes qualquer solidariedade, se eles se virarem, por exemplo, para culpar Bill Gates ou “os Rothschilds” pelas catástrofes sociais. Noutros casos, a solidariedade é à partida muito mais difícil: por exemplo, as exigências de poder reproduzir-se (mantendo-se ou melhorando) sob a forma capitalista podem ter consequências problemáticas quando os trabalhadores protestam contra o encerramento de uma fábrica de automóveis, ou quando os sindicatos se pronunciam a favor da destruição ambiental, porque isso prometeria ou garantiria “postos de trabalho”. O debate formulado nos últimos anos para levar novamente a sério os interesses da “classe trabalhadora” no quadro de uma “nova política de classe” (cf. Scholz 2020; cf. também Meyer 2019) é assim à partida inconsistente quando ao mesmo tempo se pretende criticar a destruição ambiental.
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Breve crítica da democracia louvada – André Márcio Neves Soares

É bem possível que estamos a viver em um tipo de “necrodemocracia” desde o golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2106. De fato, a eleição do obscuro deputado federal Jair Bolsonaro para presidente do Brasil em 2018 apenas desvelou, por completo, a face mais cruel de um sistema político anacrônico que vigora nesse país desde sempre. Nele, a classe dominante, mas também uma grande parcela da classe média idiotizada pelo eterno sonho de subir na escala social custe o que custar, assumiram o discurso assustador de que os fins justificam os meios, ou seja, de que era preciso erradicar da vida política brasileira o principal líder da grande massa que aterroriza a elite oligárquica econômica da “Faria Lima”: Luiz Inácio “Lula” da Silva. Continuar lendo Breve crítica da democracia louvada – André Márcio Neves Soares

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Emancipação na crise – Tomasz Konicz

Desde o iluminismo, o núcleo da ideologia capitalista tem sido ideologizar o capitalismo como um modo de produção “natural”, sem contradições e apropriado à natureza humana, como uma formação social que é simplesmente expressão da natureza humana e – o mais tardar desde a ascensão do darwinismo social – que se desenvolve economicamente de acordo com as mesmas leis que os sistemas ecológicos “naturais”. Consequentemente, esta “natureza capitalista” sintética da dominação sem sujeito do capital,15 com os seus níveis mediadores de mercado, política, justiça, indústria cultural etc., é sempre apenas a base, nunca o objecto do discurso publicado das sociedades capitalistas tardias. E é precisamente por isso que a procura de bodes expiatórios, que rapidamente se desvia para o fascismo, ganha tanta popularidade em tempos de crise,16 uma vez que a economia de mercado “natural” é literalmente imaginada como natural, potencialmente sem contradição. Assim, para a pessoa “esclarecida” na sociedade burguesa, o capitalismo parece tão “natural” como o feudalismo parecia dado por Deus ao homem medieval. Continuar lendo Emancipação na crise – Tomasz Konicz

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Para não dizer que não falei das flores – André Márcio Neves Soares

Hoje, 21/09/2022, surgiu a notícia (extraoficial) de que o ministério da defesa exigiu que o exército seja o responsável pela validação das urnas. Se isso se confirmar, o cenário é, nada mais nada menos, do que uma nova tentativa camuflada de golpe. No entanto, a sinalização contrária ao golpe vinda dos Estados Unidos, por mais de uma vez, se for a valer como parece, é a pá de cal nas intenções golpistas dos desesperados da vez. Infelizmente, quer queiramos ou não, o adágio que diz que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o resto das Américas” ainda é verdadeiro. Daí a torcida fanática deste escriba pela vitória de Biden contra Trump. Menos por afinidades políticas do que por praticidade. De fato, o “soft power” dos democratas é, nesse momento, menos danoso para nossas eleições do que o “trumpismo” desvairado. Sem a chancela de Washington, são poucas as chances dosmilitares “lesas-pátrias” avançarem contra a ordem democrática nacional. Continuar lendo Para não dizer que não falei das flores – André Márcio Neves Soares

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O paradoxo da globalização II – André Márcio Neves Soares

Este artigo está centrado na contemporânea contradição entre um regime político em franco declínio – a democracia liberal que deveria ter sido vencedor após a queda do último grande bastião dos regimes totalitários da história (III),a URSS, e o avanço sistemático das forças de extrema direita nessas primeiras décadas do século XXI. Como efeito, o desmantelamento do bloco soviético, no final do século passado, deu a impressão de que finalmente a então guerra fria entre os países ocidentais comprometidos com o neoliberalismo haviam vencido o leste europeu e os países que seguiram a cartilha do Estado onipresente, no palco das ideias políticas. Hoje, em plena terceira década do século XXI, especialmente após a crise econômica/financeira dos “subprimes” americanos dos anos 2007/2008, a cantada vitória neoliberal parece ter sido precipitada. O que deu errado? Continuar lendo O paradoxo da globalização II – André Márcio Neves Soares

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Dominação sem sujeito – Robert Kurz

A redução da história humana a uma luta infinita por “interesses” e “vantagens”, travada por sujeitos imbuídos de um árido egoísmo utilitário, (l) simplesmente abrevia ou distorce muitos dos fenômenos reais para que possa pleitear um decisivo valor explicativo. A idéia de que tudo o que não se resolve no cálculo utilitário subjetivo é mera roupagem de “interesses” sob formas religiosas ou ideológicas, instituições ou tradições, torna-se ridícula quando o gasto real com essa pretensa roupagem supera em muito o núcleo substancial do suposto egoísmo. Muitas vezes se tem antes de dizer o contrário: que os pontos de vista do egoísmo, se é que podem ser reconhecidos, representam uma mera roupagem ou uma mera exterioridade de “algo diverso” que se manifesta nas instituições e tradições sociais. Continuar lendo Dominação sem sujeito – Robert Kurz

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A Escalada da Guerra de Ordenamento Mundial sobre a Ucrânia – Herbert Bottcher

Em 1989, o Ocidente capitalista considerou-se vencedor sobre o Oriente desmoronado. Não se reconheceu que não era um concorrente sistémico, mas o “irmão gémeo” do Ocidente capitalista que tinha atingido o seu fim: a variante estatista da produção de mercadorias, que já não era competitiva com o Ocidente nem era já capaz de lidar com a revolução microelectrónica. O que não foi percebido foi que este fracasso era o prenúncio da crise agravada do capitalismo, na qual o limite lógico interno da produção de mercadorias marcava os limites do desenvolvimento cada vez mais claramente também no Ocidente. O erro a que o Ocidente sucumbiu não foi – como se afirma repetidamente – a ilusão de uma paz perpétua, que subestimou o desejo imperial da Rússia, mas a ilusão de vitória sobre o suposto concorrente sistémico, que lhe permitiu fanfaronices sobre o “fim da história” (Francis Fukuyama) na sua conclusão em mercado e democracia, ignorando ao mesmo tempo os seus próprios processos de crise e desintegração. Continuar lendo A Escalada da Guerra de Ordenamento Mundial sobre a Ucrânia – Herbert Bottcher

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Canhões e Capitalismo – Robert Kurz

O que era afinal, num passado relativamente distante, o novo, que na sequência engendrou de forma inevitável a história da modernização? Pode-se conceder plenamente ao materialismo histórico que a maior e principal relevância não coube à simples mudança de idéias e mentalidades, mas ao desenvolvimento no plano dos fatos materiais concretos. Não foi porém a força produtiva, mas pelo contrário uma retumbante força destrutiva que abriu caminho à modernização, a saber, a invenção das armas de fogo. Embora essa correlação há muito seja conhecida, nas mais célebres e consequentes teorias da modernização (inclusive o marxismo), sempre lhe foi dada pouca importância. Continuar lendo Canhões e Capitalismo – Robert Kurz

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O paradoxo da globalização I- André Márcio Neves Soares

A globalização, como paradigma final da humanidade, tinha por fim tornar a sociedade humana uma só, derrubando fronteiras. Esse sonho (talvez o termo mais propício seja devaneio), acalentado especialmente pelas forças mais poderosas do grande capital transnacional, atraiu esforços, nos últimos 50 anos, no sentido de acelerar o processo de mundialização capitalista. De fato, estamos reunidos numa espécie de aldeia global como jamais estivemos antes. Dos confins mais remotos do polo norte às estações de pesquisa e vigilância na parte mais extrema do polo sul não faltam as comunicações de controle e vigilância dos países que operam essas empreitadas. E, no entanto, a sensação que tenho, e que é compartilhada por muitas pessoas que conheço, além de corroborada com as notícias que nos infestam diariamente, é de que o mundo nunca esteve tão dividido. Para ser sincero, salvo a globalização dos mercados financeiros de dinheiro fictício, a realidade do planeta Terra nunca esteve tão calamitosa. Continuar lendo O paradoxo da globalização I- André Márcio Neves Soares

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O esgotamento de Pindorama- André Marcio Neves Soares

Nesse momento de cenário famélico, é preciso estar muito atento ao entorno da política nacional, pois a perspectiva de uma mudança de governo tranquila, de acordo com a vontade dos eleitores, como determina a plena democracia, está bem ameaçada. De fato, os movimentos políticos do atual presidente, junto com o seu séquito de militares instalados em todas as esferas do poder, reforçam os temores dos mais perspicazes de que a transição para um eventual novo governo do PT não será pacífica.Destarte, é imperioso ter em mente os seguintes fatos: Continuar lendo O esgotamento de Pindorama- André Marcio Neves Soares

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O crescimento e a crise da economia brasileira no século XXI como crise da sociedade do trabalho: bolha das commodities, capital fictício e crítica do valor-dissociação – Fábio Pitta

Bolsonaro é fruto de seu tempo. Representa a particularidade brasileira para um fenômeno de ascensão de governos de extrema-direita no mundo (SCHOLZ, 2020). Em termos ideológicos, formulou um discurso que relaciona a atual crise econômica brasileira à esquerda composta por “vagabundos corruptos” no poder, que deveriam ser exterminados a partir de agora, já que desejariam “implantar uma ditadura comunista no Brasil”, nada menos plausível depois de 13 anos de Partido dos Trabalhadores no governo federal, sem terem tentado realizar nada perto disto. Desde sua ascensão, Bolsonaro tem promovido reformas que visam acabar com as tentativas de gestão da barbárie (MENEGAT, 2019a) dos governos anteriores, encerrando programas de distribuição de capital fictício possíveis no ápice da bolha das commodities (2002 – 2011, PITTA, 2018), fomentando a expansão da fronteira agrícola sobre o que restou de florestas e reservas indígenas, desmontando a parca seguridade social e leis trabalhistas existentes no Brasil contemporâneo. Sua agenda econômica é qualificada de “ultraliberal”, porém, não exprime nenhum discurso de “retomada” de crescimento econômico, explicitando que até mesmo a extrema-direita parece não acreditar mais nesta possibilidade. Assim, ao nível ideológico, Bolsonaro sintetiza o homem branco ocidental em crise pós estouro da bolha econômica global de 2008: ressentido, conspiratório, narcisista, parte de uma camada média com tendências a amoque social. Após a posse de Bolsonaro, as estatísticas quanto ao número de feminicídios (na maioria das vezes perpetrados pelos próprios maridos ou familiares das vítimas), de assassinatos de grupos excluídos como indígenas, negros favelizados ou encarcerados (pela polícia e grupos de extermínio), de desmatamento criminoso e de suicídios no Brasil dispararam configurando números trágicos (BRUM, 2020). Continuar lendo O crescimento e a crise da economia brasileira no século XXI como crise da sociedade do trabalho: bolha das commodities, capital fictício e crítica do valor-dissociação – Fábio Pitta

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A Guerra como modelo da dissociação catastrófica do capitalismo – Marildo Mengat

Neste ensaio, o autor pretende examinar o lugar e a função da guerra como uma força destrutiva, na sociedade capitalista. Partindo de uma tese esboçada por Robert Kurz, é examinada a relação entre guerra, dinheiro e sacrifício, como contexto concreto da origem da economia, como uma forma de dominação fetichista. Posteriormente, ele analisa a mudança de lugar da guerra no momento em que o capital começa a andar com seus próprios pés. De uma forma impositiva externa, a guerra transforma-se em instrumento de crescimento e modernização imanente do capitalismo. Na fase madura do capitalismo, a guerra torna-se parte dos mecanismos de financeirização da economia. Defende-se, ao longo do ensaio, que a guerra é um modelo destrutivo que acompanha a constituição e o desenvolvimento das categorias fundamentais do sistema e, por esta razão, deve ser entendida também como modelo do porvir, ou seja, da dessocialização catastrófica no segundo colapso do sistema por hora em curso. Continuar lendo A Guerra como modelo da dissociação catastrófica do capitalismo – Marildo Mengat

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A guerra de decomposição do capitalismo russo – Pablo Jiménez C.

Robert Kurz, ao contrário da maioria dos seus contemporâneos, compreendeu que a implosão do socialismo de caserna, uma formação capitalista de modernização atrasada sob a bandeira do marxismo, constituía a antecâmara do colapso do processo de modernização mundial. Contudo, este processo de colapso não deve ser entendido como o afundamento iminente e imediato do sistema capitalista, mas como o desmoronamento já em curso de um modo de produção histórico que cada vez mais colide com os seus limites internos e externos.

Assim, o colapso da URSS não implicou imediatamente o colapso do capitalismo russo enquanto tal, mas a sua reorganização e adaptação às novas circunstâncias históricas criadas pelo processo de globalização capitalista. A ascensão de Putin à posição hierárquica superior do Estado russo no último dia do último milénio significou tanto a reorganização do capitalismo russo como o início do seu processo de decomposição no meio de um estado de excepção permanente sobre a sociedade. De facto, o seu verdadeiro “mérito” histórico – se pensarmos de acordo com a ideologia de morte própria do sujeito iluminista – seria precisamente a estabilização do capitalismo russo e a formação de um Estado imperialista arqui-autoritário e independente – capaz de competir com o Ocidente – que travou os esforços ocidentais sustentados para transformar a Federação Russa numa periferia subjugada ao neo-imperialismo ocidental. Continuar lendo A guerra de decomposição do capitalismo russo – Pablo Jiménez C.

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Prologo à Segunda Edição de “O 18 Brumários de Luiz Bonaparte “- Herbert Marcuse*

A república parlamentarista incorre numa situação em que só resta uma escolha à burguesia: “Despotismo ou anarquia. Ela, na turalmente, optou pelo despotismo”. Marx conta a anedota do Concílio de Constança, segundo a qual o cardeal Pierre d’Ailly respondeu aos defensores da reforma dos costumes: “O único que ainda pode salvar a Igreja católica é o diabo em pessoa e vós rogais por anjos”.Hoje nem mesmo o desejo de que os anjos intervenham continua na ordem do dia. Mas como se chegou a essa situação em que a sociedade burguesa só pode ainda ser salva pela dominação autoritária, pelo exército, pela liquidação e traição das suas promessas e instituições liberais? Tentemos resumir o universal que Marx torna manifesto em toda parte nos acontecimentos históricos particulares. Continuar lendo Prologo à Segunda Edição de “O 18 Brumários de Luiz Bonaparte “- Herbert Marcuse*

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Uma conversa com Roswitha Scholz

“Assumo que não é apenas o valor como sujeito automático que constitui a totalidade, mas que é preciso ter em igual conta a “circunstância” de que no capitalismo também existem actividades reprodutivas que são realizadas principalmente por mulheres. Neste contexto, “dissociação-valor” significa que, na essência, as actividades reprodutivas específicas das mulheres, mas também os sentimentos, características e atitudes conexas (sensibilidade, emocionalidade, cuidado etc.) são dissociados do valor/mais-valia. As actividades reprodutivas femininas no capitalismo têm assim um carácter diferente do trabalho abstracto. É por isso que não podem ser subsumidas sob este conceito sem mais; são um lado da sociedade capitalista que não pode ser apreendido pelo sistema conceptual marxiano. Este lado está junto com o valor/mais-valia, pertence-lhe necessariamente, mas no entanto está fora dele, sendo ainda assim a sua condição prévia. Valor (mais-valia) e dissociação estão assim numa relação dialéctica entre si. Um não pode ser derivado do outro, mas ambos emergem um do outro. Esta lógica também dá origem à “heterossexualidade compulsiva” (Adrienne Rich), uma vez que outras formas de desejo sexual são per se excluídas e perseguidas como desviantes. A este respeito, a dissociação-valor pode também ser entendida como uma metalógica que se sobrepõe às categorias internas da economia.” Continuar lendo Uma conversa com Roswitha Scholz

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O “irrealismo”capitalista de Mark Fisher- André Márcio Neves Soares

No entendimento de Fisher, se a classe operária aceitou a social-democraciacomo uma conciliação de classe, a globalização, com sua sistemática de produção e consumo globais, acabou com essa pacificação. A partir da década de 1980 o que se viu foi o acirramento da batalha entre classes em cada país, com o resultado momentâneo da vitória do neoliberalismo. Fisher ilustra muito bem esse entendimento relacionando o ano de 1984, emblemático por ser o ano da distopia de George Orwell e da viragem feroz do paradigma capitalista com o atentado thatcherista contra os mineiros em nome de uma suposta liberdade. Continuar lendo O “irrealismo”capitalista de Mark Fisher- André Márcio Neves Soares

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Por Marielle!- André Márcio Neves Soares

É preciso perseverar na memória de Marielle. Quando o tempo político mudar, com a esperança damaioria da população, será possível abrir os cadeados que escondem esse duplo crime, infame, e revelar os já conhecidos mandantes, ainda escondidos pelo poderrepublicano investidos no momento. Não deveria ser assim, é fato, mas a democracia, caro leitor, serve a diferentes propósitos para os eleitores (o povo em geral) e para os que são eleitos – os poucos que se consideram excelentes por natureza e isentos de qualquer alcance da lei. Continuar lendo Por Marielle!- André Márcio Neves Soares

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História e Desamparo: Mobilização de Massas e Formas Contemporâneas de Anti-Capitalismo – Moishe Postone

 O colapso do Fordismo significou o fim da fase de desenvolvimento à escala nacional assente na direcção do estado – quer na base do modelo comunista, do modelo social-democrata ou do modelo de desenvolvimento estatista do Terceiro Mundo. Isto colocou enormes dificuldades a muitos países e imensas dificuldades conceptuais para todos aqueles que encaravam o estado como um agente positivo promotor da mudança e do desenvolvimento. Continuar lendo História e Desamparo: Mobilização de Massas e Formas Contemporâneas de Anti-Capitalismo – Moishe Postone

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Sobre a inevitável escalada-André Márcio Neves Soares*

Putin quer garantir a territorialização pública dos seus negócios privados. Em outras palavras, sabe que para garantir poder suficiente para alavancar seus interesses pessoais, e de sua fração de classe mais chegada, é preciso estar à frente dos negócios. E mais. É preciso que exista terra firme e pessoas que o aplauda. Donde a posição estratégica da Ucrânia é um estímulo à desmesura violenta. Assim, garantida a inviolabilidade do território russo, e cercado por barreiras estratégicas para impedir a aproximação do ocidente, Putin poderá passar para a fase 2 da sua escalada inevitável: a influência totalitária que a Rússia perdeu há mais de 3 décadas no desmanche soviético. Continuar lendo Sobre a inevitável escalada-André Márcio Neves Soares*

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O médio oriente e a síndrome do anti-semitismo – Robert Kurz

Certamente também ao estado de Israel, que é evidentemente parte integrante da economia mundial capitalista, podem ser atribuídos, dada a sua forma, todos os atributos negativos da estatalidade moderna e do moderno sistema produtor de mercadorias. Mas, devido ao seu carácter singular, já que constitui em última instância um produto involuntário dos nazis e da lógica de aniquilação da subjectividade capitalista na sua extrema agudização, este estado é o primeiro, o último e o único a conter um momento decisivo de justificação, que aliás faltou desde o início a todos os estados revolucionários nacionais do Terceiro Mundo (os quais, afinal, todos começaram muito rapidamente a assumir expressões bem feias). Trata-se de um estado capitalista que é expressão da forma de sujeito capitalista, mas que, simultaneamente e numa articulação paradoxal, representa a necessidade e a legítima defesa extremas contra essa mesma forma de sujeito. Continuar lendo O médio oriente e a síndrome do anti-semitismo – Robert Kurz

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Ainda sobre o “milagre chinês” (II) – Maurilio Lima Botelho e Marcos Barreiro

A crise dos referenciais teóricos da antiga esquerda marxista – que, em todo caso, nunca entendeu criticamente as categorias de base do capitalismo – se deu em meio ao esgotamento do modelo de planejamento estatal do mercado que vigorou desde a década de 1920. Por mais que se apresentasse como um antípoda do capitalismo, sempre entendendo este a partir da combinação reducionista de propriedade privada e “livre mercado”, a realidade dessas sociedades “pós-revolucionárias” consistia precisamente no contrário, isto é, no processo de afirmação histórica das relações capitalistas fundamentais, a começar pela instituição da força de trabalho e do seu disciplinamento no contexto de construção da economia nacional. Desde o início, e em conformidade com o conceito reduzido de capitalismo, a intervenção do Estado foi confundida pelo marxismo tradicional com uma forma de poder não capitalista, mesmo quando ela atuava para implementar a acumulação primitiva e o desenvolvimento das relações de valor-mercadoria-dinheiro. O resultado da “modernização recuperadora” em economias de base fortemente rural (como a Rússia no início do século passado) foi uma formação social assentada na contradição entre a manutenção das categorias de base do capitalismo que o “primado da política” ajudou a instituir e a limitação do elemento concorrencial do mercado, o que deu origem a uma sociedade profundamente disfuncional.2 Continuar lendo Ainda sobre o “milagre chinês” (II) – Maurilio Lima Botelho e Marcos Barreiro

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Ainda sobre o “milagre chinês” (I)- Maurilio Lima Botelho e Marcos Barreiro

Em vez de explicar esse contexto de crescimento chinês, marcado pela expansão da riqueza em forma monetária, as teorias marxistas residuais se fixam na pura “materialidade” dos processos econômicos. Os investimentos em infraestrutura e no setor imobiliário, após a crise de 2008, aparecem diretamente, do ponto de vista material, como um salto qualitativo em termos de construção da “economia nacional”. Essa orientação, que se volta de modo imediatista para o concreto, seja em termos de positivismo econômico ou de “vontade política”, é incapaz de apreender o desenvolvimento das formas abstratas da riqueza e da dominação que estão no centro da crítica de Marx ao capitalismo.[14] Tanto a mobilização improdutiva de recursos para a produção de infraestrutura quanto o boom imobiliário, porém, são condicionados mais pelo imperativo abstrato da concorrência do que pelas necessidades concretas em termos de “utilidade” ou planejamento. Por meio da orientação “concretista”, a teoria permanece presa a um entendimento tradicional da contradição capitalista, que se limita a opor produção material (Grande Indústria) e propriedade privada. Um entendimento crítico da contradição capitalista teria, por um lado, de se basear na própria forma da produção e da sua contradição interna, na qual “o valor torna-se anacrônico e ainda assim permanece o âmago do capital” (POSTONE, 2018, p.18). Por outro lado, a dinâmica do capital também tem de aparecer como contradição entre a sua compulsão pelo crescimento sem limites e os custos desastrosos desse crescimento do ponto de vista ambiental, isto é, os custos materiais da produção de riqueza abstrata. Continuar lendo Ainda sobre o “milagre chinês” (I)- Maurilio Lima Botelho e Marcos Barreiro

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Um corte maior: Anulação das dívidas – Robert Kurz

O pensamento emancipador deve demarcar-se de forma aguda de interpretações economicamente vulgar-keynesianas, ideologicamente irracionais e muitas vezes étnico-neonazis. Pressupondo isto e sabendo, que se trata apenas de uma exigência parcial para a defesa imediata contra a destruição da reprodução social, pode a exigência da anulação de todas as dívidas impagáveis, não só do Terceiro Mundo, tornar-se um motivo importante do novo movimento social mundial. Continuar lendo Um corte maior: Anulação das dívidas – Robert Kurz

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O Conchavismo brasileiro – André Márcio Neves Soares

* Quando falamos a palavra “conchavo”, parece que estamos nos remetendo apenas para o sentido ruim que ela pode ter. Assim, “conchavo” passeia no imaginário popular como um conluio ou uma mancomunação visando uma finalidade má. Esquecemos que “conchavo” pode … Continuar lendo O Conchavismo brasileiro – André Márcio Neves Soares

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Um Ensaio Sobre a Guerra – Marildo Menegat

Em um Seminário na UFRJ, mais precisamente no Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Fenomenologia , fomos encontrar o professor Marildo Menegat discorrendo sobre um tema que não é comum ser discutido na Academia : o tema da origem das guerras no mundo contemporâneo, o mundo criado pelo capitalismo. Continuar lendo Um Ensaio Sobre a Guerra – Marildo Menegat

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A sociedade autofágica- Resenha de Eleutério Prado

Anselm Jappe é um dos teóricos da corrente de pensamento crítico contemporâneo que se autodenomina de “crítica do valor”, a qual tem como fundadores principais dois pensadores bem conhecidos no Brasil: Moishe Postone e Robert Kurz. Essa linhagem de reflexão que provém de Marx é, entretanto, adversária do que ela própria denomina de “marxismo tradicional”. Em sua visão, este último tronco, assim como os seus vários ramos, nunca quis enfatizar a irracionalidade intrínseca do processo de acumulação de capital. Preferiu, ao contrário, concentrar-se na questão da distribuição dos frutos do progresso que dele resulta. Continuar lendo A sociedade autofágica- Resenha de Eleutério Prado

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A subdemocracia brasileira – André Márcio Neves Soares

Dessa maneira, o conceito de “subdemocracia” brasileira não está na forma como ela se deu, mas no método a que foi submetida. De fato, na nossa trajetória republicana o povo sempre foi excluído, enganado, marginalizado até, antes de ser reintroduzido na cena política, apenas para legitimar os acordos firmados entre os detentores do poder. Nessa toada, não importa se os governos que se sucederam foram encabeçados por militares, como nos períodos Vargas e na ditadura de 1964-1985, ou não, como no período pós-ditadura. Não à toa, a expressão “República Democrática de Direitos” só foi introduzida na Constituição de 1988. Não que espelhe a realidade, pois continuamos mais para uma “República Oligárquica de Direitos”. Mas é sintomático que, até 1988, a democracia sequer era mencionada na Carta Magna do nosso país. Continuar lendo A subdemocracia brasileira – André Márcio Neves Soares

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A “Guerra pela Eternidade”, de B. Teitelbaum: O Tradicionalismo Político Ocidental como contenção do Anticristo – uma visão Tradicionalista do livro de Benjamim Taítelbaum.

Em uma das conversas reproduzidas no livro, Teitelbaum expõe as diferenças entre o ideólogo do tradicionalismo russo Alexander Dugin e Bannon, que naquela época havia começado a colaborar com o dissidente chinês Guo Wengui. Bannon tentou convencer o filósofo russo de que a Rússia e os Estados Unidos deveriam se unir sob o legado da civilização judaico-cristã (que segundo Bannon é o elo entre a Rússia e o Ocidente) contra a China como “baluarte de valores materialistas”. No entanto, Dugin tem uma visão fundamentalmente diferente do Ocidente e da China das posições de seu homólogo americano. Portanto, o “pacto entre tradicionalistas” proposto por Bannon não se concretizou. Continuar lendo A “Guerra pela Eternidade”, de B. Teitelbaum: O Tradicionalismo Político Ocidental como contenção do Anticristo – uma visão Tradicionalista do livro de Benjamim Taítelbaum.

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A Hermenêutica do Mito – Emmanuel Carneiro Leão

A serpente não mentiu. Verificou-se o que ela predissera. Será que Deus não disse a verdade? A interpretação cristã procura sair da aporia, recorrendo à imortalidade. O homem fôra criado imortal. O que Deus predissera com a cominação imediata da morte foi a perda da imortalidade. Mas o mito desconhece totalmente uma imortalidade do homem tanto depois como antes da transgressão. Por outro lado, o mito também afirma que a serpente enganou o homem. Interrogada por Deus, diz a mulher no versículo 13: “a serpente me enganou para que eu comesse”. Como a serpente pode ter enganado se disse a verdade? Só num caso; a saber, no caso de equivocação do têrmo morrer. Nesse caso, embora seja verdade, o que disse a serpente não é tõda verdade. Há um sentido de morte em que se torna falsa a predição da serpente. Então talvez seja verdadeira a predição da morte imediata feita por Deus. Mas que outra coisa poderá significar do que terminar de viver, a morte biológica? Para se responder essa questão de acôrdo com o mito, deve-se primeiro examinar os efeitos do fruto proibido.
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Sobre a potência política do inumano: retornar à crítica ao humanismo- Vladimir Safatle

É cada vez mais aceito certo diagnóstico de época que determina o presente como era do esgotamento da humanidade do homem. Compreende-se que o projeto filosófico da modernidade forjou, como uma de suas peças fundamentais, a imagem da humanidade enquanto qualidade do que é humano. Qualidade esta definida sobretudo por atributos ligados aos conceitos modernos de sujeito, como: autonomia reflexiva das condutas e ações, autodeterminação capaz de fundar o homem em uma relação de autenticidade a si mesmo, imputabilidade individual própria àquele que é moralmente responsável pelo que faz ser capaz de deliberar no interior do solo seguro de sua interioridade e, por fim, individualidade singular do que é irredutivelmente único. Acredita-se, inclusive, que as lutas políticas e as estratégias de crítica do existente devem estar fundadas na consciência do bloqueio da realização de tais atributos. Um pouco como se o sofrimento que leva a criticar a situação sócio-histórica estivesse ancorado em valores não realizados de autonomia, autodeterminação e autenticidade. Continuar lendo Sobre a potência política do inumano: retornar à crítica ao humanismo- Vladimir Safatle

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O Brasil à venda, mas Bolsonaro sangra – André Márcio Neves Soares

Se o processo de “impeachment” é essencialmente político, e de fato é (infelizmente nos últimos 30 anos estamos indo em direção ao terceiro pleito),talvez a consequência menos visualizada seja a da transformação do nosso sistema de governo, legalmente presidencialista, para o subterrâneo do parlamentarismo não oficial. Em si, os dois sistemas de governos são plenos de direitos desde que um deles esteja em vigor pelas leis do país. Mas estamos, no frigir dos ovos, aumentando o poder do que não é autorizado pela nossa constituição, o parlamentarismo, em detrimento do outro que vigora na nossa carta magna, o presidencialismo. Ou seja, estamos invertendo nosso sistema de governo, pelo menos a cada 10 anos nas últimas 3 décadas, sem o respaldo constitucional, incentivados pelo espetáculo das disputas de pura imagem, tão propício ao capital, pois este se totaliza na relação entre as pessoas, mediada pelas imagens, nos termos de Debord.  Continuar lendo O Brasil à venda, mas Bolsonaro sangra – André Márcio Neves Soares

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O som que ouvimos ao redor, são os jagunços que estão chegando – Arlindenor Pedro

Importante, é frisar que estas sentimentos sempre estiveram ai, Apenas agora, como nos versos de Clarisse Lispector que abrem este texto, , tiveram as condições para marchar com outros . Eu e você é que nunca tínhamos pensado que eles ali estavam . Continuar lendo O som que ouvimos ao redor, são os jagunços que estão chegando – Arlindenor Pedro

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O Brasil não tem perdão – André Márcio Neves Soares

A infame chacina de Jacarezinho mostrou aos brasileiros dotados de um mínimo de emotividade – os outros merecem ser submetidos a estudos psicológicos sérios -, três coisas de maneira definitiva: 1) “Deus” não é brasileiro, apesar das narrativas religiosas sempre justificarem acontecimentoscomo esse, desde a escravidão; 2) a luta de classes aqui é apenas um pano de fundo para esconder a verdadeira luta pela vida; e 3) a sociedade brasileira jamais foi progressista, no sentido de almejar um profunda reforma da vontade coletiva para a redução das imensas desigualdades entre as diversas camadassociais dentro das nossas fronteiras. Aqui estão reunidas as três reais dimensões de um país que jamais foi digno de pena: o sagrado, o profano e o psicológico. Em nenhuma dessas dimensões estivemos perto do patamar civilizatório mínimo para a dignidade da pessoa humana. Continuar lendo O Brasil não tem perdão – André Márcio Neves Soares

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Sujeito Contemporâneo – um debate com o Prof. Robson Oliveira

É o grande mérito do livro de Robson de Oliveira, ter empreendido a primeira análise de diferentes episódios da história da literatura mundial relacionando-os com as etapas do desenvolvimento da forma-sujeito. Ele fala de uma verdadeira “dupla acumulação primitiva”: objetiva – a subordinação da vida social à lógica do capital, crescente de forma incessante durante a modernidade – e subjetiva: a importância crescente da abstratificação e da indiferença (o autor retira de Georg Simmel o conceito de “blasé”) das estruturas psíquicas dos portadores dessa modernidade. Isso diz respeito, deve-se sublinhar, a todas as classes sociais, embora nem sempre da mesma forma: o “sujeito burguês” é uma categoria mais ampla do que apenas a classe burguesa. De maneira bem convincente, ele mostra que a forma-sujeito, que é uma pura abstração, se constitui pelo fim da Idade Média na Europa, paralelamente à emergência do dinheiro, e em relação estreita com uma nova maneira de conceber o tempo, em prelúdio à sua futura abstratificação e aceleração. Continuar lendo Sujeito Contemporâneo – um debate com o Prof. Robson Oliveira

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